sábado, 14 de março de 2015

Entrevista no Bloco de Devaneios

Olá a todos.

Recentemente dei uma entrevista ao Bloco de Devaneios. Tratou-se de uma entrevista diferente das que já fiz; não só, porque nela foram mencionadas questões amplas da problemática da literatura em Portugal, quer para quem a consome, quer para quem a produz, como também nela se falou sobre a Trilogia e o ebook Marta.

Ficam aqui os dois links, pois a entrevista acabou por ter uma certa dimensão:

Parte 1

Parte 2


Os meus agradecimentos à blogger que, em breve, dará a sua opinião sobre os meus escritos

domingo, 22 de fevereiro de 2015

Mais uma colectânea

Olá a todos.

A Pastelaria Estúdios vai lançar, no final deste mês, mais uma das suas colectâneas - temáticas -, destinadas a promover escritores de língua oficial portuguesa. Desta vez o tema é a Mentira, em todas as suas facetas. 

Eu voltei a ter o meu conto seleccionado para publicação: «Os Lobos do Alberto».

Com este, são já quatro, os contos que publiquei pela Pastelaria Estúdios: 

- «As Confissões de Maidenov»;

- «Poseidon»;

- «...Por Linhas Tortas»;

- «Os Lobos do Alberto»;

Partilho com todos um excerto do texto da minha autoria:

«Nasci há 35 anos, numa terrinha esquecida por Deus, em Trás-os-Montes. Vi as pessoas irem saindo, umas atrás das outras, sem nunca as ter visto regressar; a minha mãe, perante o meu espanto, dizia-me que as pessoas se deveriam perder e o meu pai falava-me dos lobos. E enquanto crescia, à medida que fui percebendo das coisas, do mundo, da mesma forma que fui perdendo a fé em Deus - que nos esquecera ali - fui entendendo o que levava as pessoas dali embora e fui criando a minha própria versão dos factos: as pessoas não se perdiam, nem eram apanhadas pelos lobos; esqueciam-se de voltar. Uma coisa que também a mim me aconteceria, um dia; muito embora, eu ainda não tenha percebido se me esqueci do caminho ou se me perdi; nem sei se alguma vez irei perceber, ou quererei fazê-lo, pela simples razão de que o homem acredita no que quer. Como um grande amigo meu me diria, anos mais tarde, muitos anos depois de eu ser aquele rapazinho de Trás-os-Montes: às vezes acredita-se tanto na mentira que não se distingue a mentira da verdade e, nesse caso, o que é que é a mentira, e para quem, e o que é a verdade? Quem é o mentiroso?»

in, «Os Lobos do Alberto», by Paulo Pinto Fonseca, Colectânea Mentira, pág. 173, Pastelaria Studios, 2015  

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Promoção de Natal

Olá a todos.

O Natal está aí. Se ainda não sabe o que dar aos seus amigos, um livro é sempre uma boa prenda.

Ofereça um dos livros da Trilogia Império Terra, ou ofereça o ebook «Marta».

Para ajudar, a partir de amanhã, o ebook «Marta» custará apenas 1.50€, na KOBO; é uma oportunidade única que termina no dia 26 de Dezembro.

Quem preferir FANTÁSTICO, saiba que este ano, por 15€, podem ter os dois livros: Império Terra: o Princípio e Império Terra: Guerra da Pirâmide - estes podem ser adquiridos através do meu site, ou enviando um email para trilogiaimperioterra@gmail.com.

Boas leituras.


terça-feira, 25 de novembro de 2014

CROWDFUNDING | Fim de Campanha

Olá a todos.

A campanha de Crowdfunding Vamos Publicar Livros, terminou hoje às 18h. Às 18.07 recebi o email da PPL|Crowdfunding a informar-me de que não fora angariado valor suficiente para o financiamento do projecto. 

Não se pode dizer que tenha estado perto, porque apenas reuni 46€; mas foi uma experiência interessante da qual se podem tirar muitas elacções.

Resta-me agradecer a todos aqueles que acreditaram no projecto e em mim, bem como a todos aqueles que não acreditaram; cada um, à sua maneira, contribuiu, de algum modo, para o futuro da minha carreira de escritor.

Quanto a «Marta», a história será publicada só em ebook e só em português ( para já ). Em breve darei novidades quanto a capas e locais para aquisição.

domingo, 23 de novembro de 2014

Campanha Crowdfunding | 1º Balanço

A companha de Crowdfunding, lançada no final de Outubro e com término agendado para 25/11/2014, está - claro - a chegar ao fim. 

Fazendo um primeiro balanço, direi - necessariamente - que estou aquém das minhas expectactivas.

Neste momento tenho 46€ e preciso de 740.00€. Estando a 2 dias do fim, resta-me esperar que algumas pessoas contribuam com valores altos. Ou então que muita pessoas contribuam com valores menos altos...

Penso que a maior parte de nós não compreende o verdadeiro conceito do Crowdfunding; a ideia central e principal é reunir muitos pequenos apoios, porque muitos pequenos apoios permitem atingir somas razoáveis. Vamos ao processo?

É simples, registamo-nos no site, seleccionamos APOIAR, consultamos os projectos que estão a colher contributos e se encontrarmos algum, ou alguns, que nos digam alguma coisa, ajudamos esse promotor/autor a tornar esse projecto em realidade. E em troca?

Em troca receberemos a Recompensa que o promotor definiu para o nosso contributo. Não é complicado; pois não?

Vamos à aritmética... Neste momento faltam-me 694€. Bastar-me-ia que 7 pessoas contribuíssem com 100.00€ cada - é muito dinheiro dirão; mas e se 70 pessoas contribuissem com 10€? Ou se 140 pessoas apoiassem com 5€?

Em qualquer destes cenários eu conseguiria o meu objectivo. Mas o maravilhoso do Crowdfunding é que ninguém perde; com a publicação de «Marta», quem contribuiu recebe uma Recompensa à altura da sua contribuição; se não, os valores serão devolvidos.

Visitem-me em Vamos Publicar Livros e conheçam o projecto e as Recompensas; apoiem este projecto e façam parte de um livro que será o primeiro de muitos.

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Prólogo de «Marta»

Estava uma manhã fresca de verão. A neblina ainda não se desfizera nos habituais farrapos molhados que lhe costumavam acariciar o rosto, as pessoas ainda não percorriam a praça central que acabava no molhe escuro junto ao mar que afagava as pedras numa cantiga de embalar, os pescadores ainda não tinham voltado, e o seu sono fugira-lhe de novo.
A vila de Peixelim era uma localidade afável.
A sua família chegara ali há 65 anos. O avô Antunes e a avó Graciete construíram a casa de família a pulso, com a ajuda das pessoas da terra; curiosamente o seu avô paterno também contribuíra para isso – o avô Cardoso – e assentaram ali decididos a tirar o sustento da terra num sítio de peixe. Felizmente as coisas haviam corrido bem e acumularam uma pequena fortuna. 
A casa dos Alva era a maior de Peixelim. Tinha de ser! Lá viviam os avós maternos, os seus pais e ela. O resto da família afastara-se.
Os tios Albuquerque viviam bem, eram abastados, e não ligavam à família.
O tio Afonso desposara a tia Laurinda em 1932...
A mãe sempre lhe dissera que aquele casamento fora orquestrado pelo senhor Azeredo Albuquerque, pai do tio Afonso, que, receoso da ameaça que a família Alva pudesse representar ao domínio que tinham sobre região, resolvera juntar as duas famílias; e rematava com a afirmação de que a tia Laurinda nunca fora feliz.
Ela não sabia nada dessas coisas, mas a verdade é que só em 1950 nascera o primo Rodrigo, quando a seu tio João já era pai desde 1933, e os seus pais desde 1934, quando nascera Marta...
A sua irmã Marta teria hoje 36 anos, se fosse viva... 36 anos... A mesma idade que deveria ter a prima Maria Alva, filha do tio João e tia Josefina.
Gostava muito da prima Maria Alva, mas não sabia muito da vida dela. Só sabia que cada ano que passava ficava menos tempo em Peixelim. Fora viver para Lisboa, após o falecimento dos pais, há dois anos...Voltava sempre para as festas da vila em Agosto, mas no ano anterior ficara apenas uma semana. Viria ela este ano?
Ela também gostaria de partir para Lisboa. Tentar a sorte noutro lado... Peixelim era a sua terra, mas ali nada mais a esperava senão um casamento, talvez infeliz...
Mas não tinha coragem de falar sobre isso com os pais. Estava certa de que seria um choque para ambos e não queria dar-lhes esse desgosto. Bastara-lhes o que acontecera com Marta... A irmã Marta que nunca conhecera e que, mesmo assim, tanto lhe condicionava a existência...
Era frequente ser comparada com a irmã que morrera há 20 anos, afogada naquele mar que tão convidativo parecia.
Marta morrera com 16 anos de idade. Pensava-se que teria sido tragada por uma onda traiçoeira ali mesmo, junto ao molhe, onde ela estava naquele momento, numa manhã de mar alteroso.
Nunca ninguém lhe contara ao certo como acontecera. Não conseguia imaginar tamanho temporal que arrastasse alguém dali. Já vira o mar zangado muitas vezes e, mesmo nos piores dias, em que lançava os seus braços sobre a terra, nunca vira neles força que levasse quem quer que fosse. Mas também não sabia se fora dali, daquele sítio onde estava, e também já ouvira histórias de grandes ondas que se formavam do nada, como se o mar tivesse vontade própria. Talvez, por isso, tivesse pesadelos com Marta.
Não sabia se era psicológico, mas desde que fizera 16 anos que sofria de insónias, e os pesadelos que tinha com Marta lutando contra as águas eram a sua principal causa. Há 3 anos que frequentemente fazia aquela caminhada, desde lá de cima da colina, onde estava a casa, descendo o empedrado cinzento e íngreme até à praça principal, envolta pela bruma, enrolada num xaile laranja e um lenço azul sobre a cabeça, parando a escassos centímetros do molhe esperando que o mar lhe falasse de Marta – já que ninguém mais falava. Chegava ali, fincava os pés no chão, e fechava os olhos para se deixar levar pelo som calmante do mar, esperando que nessa melancolia esquecesse a angústia que sentia sempre que aquele sonho mau a acordava.
Às vezes não sonhava. Havia noites em que dormia profundamente, madrugadas em que não era despertada pelos gritos da irmã entrecortados pelas goladas de água salgada que lhe invadiam as entranhas e lhe enfraqueciam a força, enquanto a ouvia bradar por ela, no meio do som do temporal – «Teresa!». Mas essas noites era raras; normalmente, acordava ainda com a imagem de Marta a afundar-se devagar, como se navegasse para as profundezas.
 Talvez, por isso, sempre que por força do pesadelo empreendia aquela caminhada até ao molhe, temesse abrir os olhos, e temia abri-los, porque tinha o medo irracional de ver o corpo sem vida da sua irmã vir à tona, como se ela a espreitasse do além.
O primo Rodrigo também deveria voltar de Lisboa para as festas. Quisera deus que, mesmo sendo um Albuquerque, mantivesse as relações com a família. Gostava muito de falar com ele!
A mãe não apreciava muito aquela amizade, e o tio Afonso nem a imaginava.
O avô Antunes, por seu lado, encorajava-os a continuarem a dar-se.
Coitado, do avô. Com 78 anos ainda não perdera a esperança de ver o nome da fábrica de conservas alterado para Albuquerque & Alva Conservas, e deveria ver em Rodrigo a última hipótese...
Quando Marta morrera daquela forma trágica, o tio Afonso, talvez comovido pela desgraça, acomodara toda a família da tia Laurinda na fábrica, e atribuíra-lhe cargos de responsabilidade. Mas o nome mantivera-se Azeredo Conservas.
Contudo, Rodrigo estava a estudar para advogado, e não parecia interessado nos negócios do pai. Seria uma vã esperança, a do avô.
Esperava que Maria Alva também viesse. Haviam conversas que apenas poderia ter com a prima. Talvez ela lhe pudesse falar de Marta. Elas deviam ter sido íntimas... Com idades tão próximas...
Tinha saudades da prima, daquelas tardes na esplanada do Tibúrcio a beber refrescos e batidos, a conversar de trivialidades; ou a desconversar, como tão bem fazia a prima quando o assunto se tornava mais pesado. Às vezes sentia-se só…
Os tios Albuquerque apenas os conhecia de vista, já não tinha avós paternos, não tinha namorado, porque os pais não a autorizavam a namorar... Até havia um rapaz por quem tinha um fraquinho; mas era pescador…
Não discutia esses assuntos. Já desistira! Um dia lembrara-lhes que Maria Alva era filha de uma pescadora e os pais limitaram-se a desviar o olhar como se tivesse dito uma blasfémia, ou como se fosse por isso que Maria Alva fora forçada a partir. Nessa altura apetecera-lhe gritar que a prima partira porque era livre, porque estavam em 1970 e as mulheres deviam ter o direito de escolher o seu próprio caminho... Mas o mais certo era apanhar uma valente bofetada e ser proibida de sair. Não valeria a pena tamanho castigo, apenas para dar voz à rebeldia.
O sino da igreja começara a tocar para a missa. A neblina ia dissipando-se suavemente e ao longe já se viam os barcos de pesca a voltarem.
Estava na altura de regressar à casa. Estava certa de que ainda ninguém se levantara. Ao Domingo apenas iam à igreja às 10 horas.
Misturando-se com as gentes de Peixelim que saíam em direcção à igreja para a missa das sete, no cimo da colina, num ritual que repetia há 3 anos, sabia que vestida daquela forma ninguém a tomaria por Teresa Alva Cardoso, garantido que a sua reputação de menina de família se manteria intocada, assim como a seriedade dos Alva.
As festas começariam no dia seguinte...
Seria tão bom se Maria Alva viesse...