Olá a todos.
A Pastelaria Estúdios vai lançar, no final deste mês, mais uma das suas colectâneas - temáticas -, destinadas a promover escritores de língua oficial portuguesa. Desta vez o tema é a Mentira, em todas as suas facetas.
Eu voltei a ter o meu conto seleccionado para publicação: «Os Lobos do Alberto».
Com este, são já quatro, os contos que publiquei pela Pastelaria Estúdios:
- «As Confissões de Maidenov»;
- «Poseidon»;
- «...Por Linhas Tortas»;
- «Os Lobos do Alberto»;
Partilho com todos um excerto do texto da minha autoria:
«Nasci há 35 anos, numa terrinha esquecida por Deus, em
Trás-os-Montes. Vi as pessoas irem saindo, umas atrás das outras, sem nunca as
ter visto regressar; a minha mãe, perante o meu espanto, dizia-me que as
pessoas se deveriam perder e o meu pai falava-me dos lobos. E enquanto crescia,
à medida que fui percebendo das coisas, do mundo, da mesma forma que fui
perdendo a fé em Deus - que nos esquecera ali - fui entendendo o que levava as
pessoas dali embora e fui criando a minha própria versão dos factos: as pessoas
não se perdiam, nem eram apanhadas pelos lobos; esqueciam-se de voltar. Uma
coisa que também a mim me aconteceria, um dia; muito embora, eu ainda não tenha
percebido se me esqueci do caminho ou se me perdi; nem sei se alguma vez irei
perceber, ou quererei fazê-lo, pela simples razão de que o homem acredita no
que quer. Como um grande amigo meu me diria, anos mais tarde, muitos anos
depois de eu ser aquele rapazinho de Trás-os-Montes: às vezes acredita-se tanto
na mentira que não se distingue a mentira da verdade e, nesse caso, o que é que
é a mentira, e para quem, e o que é a verdade? Quem é o mentiroso?»
in, «Os Lobos do Alberto», by Paulo Pinto Fonseca, Colectânea Mentira, pág. 173, Pastelaria Studios, 2015